Manas história: As filósofas da história

Por: Priscila Gorzoni

Embora elas sejam centena, milhares, apenas algumas ilustram os livros de filosofia. Nos cursos então raras são citadas, como se a história da filosofia nunca tivesse tido mulheres filósofas. Por sorte, isso é um grande engano. As mulheres não só fizeram filosofia no decorrer da história, como uma grande diferença. Apenas pela constatação óbvia de que boa parte da história foi escrita por homens, brancos e da elite, elas foram subtraídas da maioria das enciclopédias, cursos e livros.

Na filosofia do séc. XX

Um dos fatos indicativos da presença das mulheres na filosofia figura na morte de Sócrates. Momentos antes de morrer, o filósofo despede-se dos amigos, dos filhos e da família. O relato tocante que Platão nos deixa no Fédon é por demais conhecido. Segundo Maria Luísa Araújo de Oliveira Monteiro Ribeiro Ferreira é professora associada (com agregação) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde tem lecionado Filosofia Moderna, Didática da Filosofia, Filosofia da Natureza e do Ambiente, Filosofia do Espaço Público, Filosofia de Gênero, há nele uma breve referência que passa despercebida à maior parte dos leitores: a ordem dada pelo filósofo para que as mulheres se retirem. “Ausentes em todo o diálogo preparatório da morte, são mandadas sair quando esta vai concretamente ocorrer, como se só os discípulos, homens todos eles, pudessem assistir ao suicídio forçado do filósofo, do mesmo modo que só eles acompanharam as suas diatribes oratórias na cidade. Este abandono (imposto) das mulheres no que respeita à filosofia, retrata bem o estatuto que as mesmas ocuparam no pensamento ocidental, a ausência. Uma ausência não deliberada, mas compulsiva, não expressa mas justificada por razões outras que não as filosóficas”, esclarece.

A saída das mulheres, ordenada por Sócrates, é aceita pelos discípulos deste como algo de natural. Há um silêncio conivente dos filósofos para os quais a condição feminina se circunscreve ao espaço privado, enquanto a filosofia é um acontecimento público, mesmo quando se desenrola em um quarto e diz respeito ao ato íntimo de morrer. Um silêncio que se mantém ao longo de séculos. Intercalada por algumas intervenções femininas, a voz dominante da filosofia é masculina. “De facto, como dizer às mulheres que hoje se interessam por filosofia, estudiosas, professoras, investigadoras, estudantes, que não existem, enquanto mulheres, na mente dos filósofos? Como fazê-las aceitar a universalidade do conceito do homem, pelo qual são designadas? Como convencê-las de que tudo o que as identifica enquanto diferentes, é desinteressante para a filosofia? E que reação esperar por parte de quem permanentemente se defronta com o silenciamento, a anulação ou a secundarização de temáticas que considera relevantes?”, exemplifica Ferreira.

Quem são elas?

Não foram poucas as mulher que fizeram filosofia e por vários motivos como alguns já citados acima, elas ficaram escondidas da história. É dificil encontrar referências sobre e algumas delas. Entretanto foram fundamentais não só na filosofia, como nas mudanças do pensamento da época e até na formação de alguns filósofs bem famosos como Sócrates. Ele teve como professora uma filósofa. Bom é de algumas delas que falamos um pouco abaixo. Pois elas são milhares. Algumas das personagens abaixo foram retiradas do trabalho de Ana Miriam Wuensch de As Mulheres e a Filosofia. Apostila do Curso de Extensão “As Mulheres e a Filosofia III – Existem Filósofas?”, CESPE, Universidade de Brasília, 2003.

Antiguidade (Séculos VII-IV)

Themistoclea (600 a. C)

Sacerdotisa de Delfos, um conhecido templo bem na Grécia. Ela tem a fama de ter sido o mestre de Pitágoras, que é freqüentemente chamado de “o pai da filosofia”, pois é dito que ele cunhou o termo “filósofo”.

Safo de Lesbos (VII-VI a.C)

Ela é descrita como baixa e escura. Foi educada e nascida em Mitilene, na Ilha de Lesbos. Seu trabalho não só foi cantado, ensinado como citado. Ela deu vida a todo o movimento poético e musical. Por meio da criação de um ambiente estimulantes para mulheres talentosas da Grécia e da Ásia Menor, em sua ilha natal de Lesbos. Segundo Vicki León em Mulheres audaciosas da antiguidade da editora rosa dos tempos, Safos encorajou as carreiras criativas de dúzias de mulheres famosas e de várias desconhecidas. Dela surgiram várias outras intelectuais da época como: Damófila. De sua obra conservam-se dez livros.

Aristocleia (Século V a.C)

Ela foi uma sacerdotisa em Delfos na Grécia antiga. É citada por antigos escritores como uma tutora do filósofo e matemático Pitágoras.

Theano (546 a. C-)

Viveu na última parte do século VI a. C e foi uma matemática grega. Também conhecida como filósofa e física. Ela foi aluna de Pitagóras e parece que também sua mulher. Acredita-se que ela e suas duas filhas tenham assumido a escola pitagórica após a morte do marido.

Aspásia de Mileto (407-410 a. C)

Conformo o seu nome ela nasceu em Mileto e pertenceu a elite de Atenas. Lá conheceu Péricles com quem teve um filho. Era uma hábil argumentadora e educadora e sua influência política sobre Péricles encontra-se na obra de Platão.

Diotima de Mantinéia (427-347 a. C)

Personagem criada por Platão e foi apresentada como sábia no dialógo o Banquete. Não se sabe se ela existiu. Mas provavelmente sim já que se atribui a ela toda a teoria socrático-platônica do amor.

Asioteia de Filos (393 – 270 a C)

Ensinava física na Academia de Platão ao lado de outras mulheres que frequentavam a escola.

Hipárquia de Maroneia.

Foi uma aristocrata, e é elogiada por Diógenes Laertios pela cultura e raciocínio, comparando-a com Platão. Escreveu: “Cartas e Tragédias”.

Maria a judia ou Miriam (séc. I d C)

Viveu em Alexandria, seguidora do culto de Isis. Ela é considerada a fundadora da alquimia. Entre seus escritos está a obra Magia Prática. E por atribuir-se a ela a descoberta do ácido cloridrico, além do ponto de ebuliçã que ganhou o nome banho-maria.

Hipácia de Alexandria (415 d C)

Conhecedora da matemática e da filosofia. Conseguiu mater vivo o pensamento helênico em Alexandria. Mas teve um fim triste, foi brutalmente assassinada por uma miltidão de fanáticos cristãos.